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    PRONUNCIAMENTO CIGANO - artigo dezembro.2010 em covenanimus.com

    Bruxa Honda
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    Mensagem  Bruxa Honda Qua Dez 22, 2010 11:33 am

    Uma das grandes alegrias e emoções que tive este ano, o que agradeço a Del (Deus), e peço aos meus ancestrais que abençoem aos amigos do Grupo Animus pela oportunidade de aqui estar e falar sobre meu tão amado povo cigano. Os assuntos que quero mostrar a todos podem levar meses e até anos, pelo enorme conteúdo existente - a maioria já adiantei, pois minha ansiedade em falar sobre tantas coisas guardadas a ‘mil chaves’ por tantos anos me deixam feliz e realizada, algo que faz parte da minha missão nesta encarnação, e para isso fui preparada pelos meus ancestrais. Escrever e pesquisar detalhes a fundo sobre a história do meu povo tratada com seriedade, com conhecimento do que de verdadeiro existe, desmistificando histórias absurdas que são contadas a nosso respeito é muito gratificante.

    Mas mudei de opinião em colocar um texto maravilhoso que havia preparado para o final de ano, pelo ‘luto’ que eu e meus irmãos de sangue ciganos temos passado pelos horrores dos últimos acontecimentos – e todos já sabem pelos vários meios de comunicação, que grande parte do povo cigano que morava na França e adjacências estão sofrendo, como a erradicação para outros países deixando de exercer sua ciganidade justamente em nossa ‘Meca’ que é a região de Camargue (França), onde se localiza o templo Saintes Maries de la Mer ( já citei em textos passados que é onde estão as relíquias de Santa Sara, a única santa cigana no mundo, e a meta das peregrinações anuais, sonho meu e de todos os ciganos que conheço, de pelo menos uma vez na vida conhecer Saintes Maries de la Mer para levar nossas oferendas e participar dos rituais que são feitos há tantos séculos). Estou até com certa dificuldade de escrever por estar com olhos embaçados de tristeza e dor, o coração partido de desgosto e minha mente mostra o tempo todo em tela mental um misto de passado e presente, onde as rodas das carroças foram trocadas pela dos carros, e as tsaras (tendas) foram trocadas pelas casas de alvenaria, no ontem um povo totalmente nômade, e no hoje a maioria se sedentarizou, fixando residência, assim na minha mente se confrontando. Algumas pessoas podem pensar que assim estamos deixando de exercer nossos costumes, o que não é realidade, apenas estamos acompanhando a evolução. E o que é da nossa tradição e que não tem como modificar - embora tanto fizeram para que isso ocorresse - pois está no nosso sangue e marcado em nosso espírito. E assim conseguimos chegar ao terceiro milênio, apesar das críticas, dos preconceitos, apesar das fogueiras, dos campos de concentração, apesar de não termos uma terra nossa, ou seja, um país nosso. Nós povoamos o mundo inteiro empunhando a bandeira da dignidade, do orgulho de poder dizer: “Eu sou cigano!".

    Nesse meio tempo, embora muito pode-se dizer que ‘são outros tempos’, pois livros tem sido escritos contando as histórias de nossas vidas, nossos costumes, nossas crenças, festas, vestimentas, danças. Foi dada a nós a oportunidade de manifestar a nossa espiritualidade. Os nossos dons são vistos hoje pela maioria pelo que realmente são: intuição e mediunidade. Não somos mais considerados ladrões, vagabundos, embusteiros ou feiticeiros. Hoje é do conhecimento de todos que somos um povo privilegiado pelos dons concedidos por Del. No mundo dos gadjês foi aberta a oportunidade da manifestação de nossa característica e já somos por muitos, respeitados e amados pelo que somos.

    Mas me machuca as missivas que recebi dos meus irmãos de sangue, bradando desespero e indignação pelo que se passa agora, pois se algo não for feito já, com certeza nosso final é deixarmos de existir, é o horror do passado revisitando nossas vidas! A verdade é que mais uma vez prova-se que o preconceito está mais vivo que imaginamos, e aonde vamos parar com tudo isso?
    Nestes últimos anos, eu e meus irmãos de sangue ciganos temos trocado idéias a respeito de nossa alegria em podermos estar compartilhando nossas mais belas histórias e costumes, mostrando nossas belas habilidades aos nossos prals gadjês (irmãos não ciganos), como a nossa música, a nossa dança, o nosso trabalho, tudo ao nosso redor que gira em torno da arte, do dom artístico, da sensibilidade, e da emotividade.

    “O mundo gira, e no giro do mundo civilizações se perderam até se tornarem lendas. Os ciganos continuam girando no mundo com o mundo, e, longe de se tornarem uma lenda, contam as lendas do mundo...”

    Que meus ancestrais possam neste momento abençoar a todos – irmãos de sangue ciganos ou não – e a mim neste momento, que tentei escrever algo sobre a atualidade que me deixa emudecida.

    A palavra que resume tudo isso é: L A M E N T Á V E L !!!

    A todos, o nosso naís tukê (muito obrigado).

    Tê lel sama ô Del pala tut! (Que Deus abençoe a todos!)

    Zelia


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