O mito grego de Deméter e Perséfone era conhecido em Roma como de Ceres e Proserpina respectivamente. Inclusive o nome de Ceres, a Deusa Romana da Agricultura, foi a base da palavra "cereal".
Há muito tempo atrás, quando a memória do ser humano era jovem, os mortais viviam num verão sem fim. Não havia frio ou neve, mas dias dourados e noites refrescantes, fertilidade e abundância. Porém, num dia sombrio, uma grande tragédia caiu sobre a filha de Deméter, e foi isso que trouxe o inverno ao mundo.
Deméter era Deusa das Terras Férteis, seus cabelos eram da cor do milho recém cortado e o nome de sua filha era Kore, uma jovem tão doce e bela quanto o desabrochar das flores nas árvores na primavera.
Um dia, Kore havia saído para o campo para colher flores com alguns companheiros, e colheu violetas, jacintos, íris e lírios, até que ela viu um narciso particularmente bonito e parou para pegá-lo. Entretanto, assim que ela o fez, foi como se houvesse virado uma chave e aberto uma passagem para alguma câmara subterrânea, pois no instante que a jovem arrancou o narciso, um troar foi ouvido de dentro da Terra e, do mesmo modo que os pássaros pararam de cantar, a Terra começou a tremer. Mas mesmo assim ela nada pode fazer além de gritar quando um grande abismo surgiu sob seus pés, e o tenebroso Hades, Senhor do Submundo, saiu em sua carruagem, agarrando-a e a carregando para seu reino antes mesmo que ela pudesse gritar por ajuda, deixando somente uma cicatriz na Terra que se fechou sobre eles, fazendo tudo voltar a mesma calma e paz anteriores, sem sinal algum de que algo havia acontecido.
Quando Deméter ficou sabendo do desaparecimento da filha, foi como se toda luz e vida houvessem desaparecido do mundo. Tomada pela dor da perda, a Deusa voou como um pássaro por sobre a terra e o mar, buscando sua criança perdida.
E quando finalmente descobriu o nome do raptor, e pior ainda, que Zeus, Senhor dos Deuses e irmão de Hades, havia tomado parte no crime, Deméter ficou fora de si, tomada por raiva e desespero. Ela então se disfarçou como uma anciã e passou a vagar, desolada, pelo mundo dos homens, buscando sua filha.
Finalmente ela chegou a cidade de Eleusis, governada pelo sábio rei Celeus. E como ninguém havia descoberto sua real identidade, a Deusa tornou-se governanta no palácio do rei, responsável por seu filho mais jovem.
Na realidade o plano secreto de Demeter era conceder ao jovem a dádiva da imortalidade. Para isso, ao invés de comida, ela estava alimentando-o e untando-o com ambrosia e cozendo-o sobre o fogo da lareira durante a noite, de modo a exaurir sua mortalidade. E a cada dia a criança se tornada mais semelhante a um Deus.
Ansiosa por descobrir a razão da mudança do filho, Metaneira, sua mãe, passou a espiar a governanta, mal sabendo que ela realmente era uma Deusa. Quando Metaneira viu a mulher colocando seu filho sobre o fogo, ela gritou, Deméter virou-se, dizendo a Metaneira que se ela não houvesse interferido, seu filho teria se tornado imortal.
Ela então revelou sua real identidade, ordenando que um templo em sua honra fosse erguido em Eleusis, onde as pessoas pudessem celebrar seus mistérios.
E em gratidão a hospitalidade da família de Celeus, Deméter também dividiu com seu filho Triptolemus, seus segredos. Foi a Triptolemus que a Deusa deu o primeiro grão de milho, e ensinou-o como plantá-lo de modo a conseguir grandes colheitas e alimentar a humanidade. Ensinou-o como atrelar o boi ao arado para ajudar o agricultor em seu trabalho diário. E foi a Triptolemus que deu uma carruagem alada puxada por dragões de modo que ele pudesse viajar pelo mundo espalhando por entre a humanidade o conhecimento que havia lhe passado.
Mas esta é outra história. Pois Deméter continuou em sua missão sagrada. Sentada em seu templo em Eleusis, a Deusa fez um voto de vingança contra aqueles que haviam raptado sua filha, e foi uma vingança terrível, pois ela amaldiçoou toda a terra, dizendo que nenhuma fruta nasceria enquanto Kore não retornasse a seus braços.
E assim aconteceu, como nunca havia acontecido desde o início dos tempos, quando os homens e os animais começaram a andar pela Terra, os pés de milho não cresceram, as frutas não nasceram, e o frio e a escuridão, a fome e a morte, se espalharam pelo mundo como um manto sombrio. E todas as criaturas, todos os mortais foram tomados por uma fome terrível.
Em desespero, Zeus enviou Íris para conversar com Demeter. Após descer a Terra através de sua ponte de arco-íris. E Íris implorou a Deusa que esquecesse o assunto, mas isso de nada adiantou. E um a um, todos os Deuses desceram para tentar convencer Deméter, mas ela estava decidida, e continuou recusando-se a ouvir, e a Terra continuou estéril. No fim, a única solução foi Zeus conversar pessoalmente com seu irmão Hades e mandar que ele devolvesse Kore a mãe.
Hades prontamente concordou. Prontamente demais, inclusive. Na realidade, desde o início ele sabia que aquilo iria acontecer e já havia se preparado para o fato, armando uma pequena armadilha para Kore de modo a garantir que ela fosse impossibilitada de abandoná-lo.
Enquanto ela estava em seu reino, ele ofereceu-lhe uma romã, conhecida como "maçã de muitas sementes". E apesar da jovem ter engolido somente quatro sementes, foi o bastante para selar seu destino. A romã mágica, fruta da união sexual, mesmo quando se engole só parte dela, prende a pessoa.
Com isso Kore ficou presa a Hades pelos ritos sagrados do casamento. Ela passou a ser a esposa de Hades, recebendo inclusive um nome novo, pois passou a se chamar Perséfone, a Rainha do Submundo.
E foi devido a isso que, quando Zeus disse a Hades que liberasse sua esposa, ele não relutou em fazê-lo, pois sabia que ela logo retornaria.
Como sua rainha, ela deveria retornar, para passar pelo menos quatro meses de cada ano em seu reino no Submundo, um para cada semente que comera.
E é devido a este fato que, por quatro meses no ano, devido ao pesar de Deméter por sua filha, as folhas caem das árvores, a terra perde a fertilidade e todo o mundo dorme, esperando o retorno de Kore.
De: History of Myths Retold
Autora: Diane Ferguson
Tradução: Valdir Callegari
Há muito tempo atrás, quando a memória do ser humano era jovem, os mortais viviam num verão sem fim. Não havia frio ou neve, mas dias dourados e noites refrescantes, fertilidade e abundância. Porém, num dia sombrio, uma grande tragédia caiu sobre a filha de Deméter, e foi isso que trouxe o inverno ao mundo.
Deméter era Deusa das Terras Férteis, seus cabelos eram da cor do milho recém cortado e o nome de sua filha era Kore, uma jovem tão doce e bela quanto o desabrochar das flores nas árvores na primavera.
Um dia, Kore havia saído para o campo para colher flores com alguns companheiros, e colheu violetas, jacintos, íris e lírios, até que ela viu um narciso particularmente bonito e parou para pegá-lo. Entretanto, assim que ela o fez, foi como se houvesse virado uma chave e aberto uma passagem para alguma câmara subterrânea, pois no instante que a jovem arrancou o narciso, um troar foi ouvido de dentro da Terra e, do mesmo modo que os pássaros pararam de cantar, a Terra começou a tremer. Mas mesmo assim ela nada pode fazer além de gritar quando um grande abismo surgiu sob seus pés, e o tenebroso Hades, Senhor do Submundo, saiu em sua carruagem, agarrando-a e a carregando para seu reino antes mesmo que ela pudesse gritar por ajuda, deixando somente uma cicatriz na Terra que se fechou sobre eles, fazendo tudo voltar a mesma calma e paz anteriores, sem sinal algum de que algo havia acontecido.
Quando Deméter ficou sabendo do desaparecimento da filha, foi como se toda luz e vida houvessem desaparecido do mundo. Tomada pela dor da perda, a Deusa voou como um pássaro por sobre a terra e o mar, buscando sua criança perdida.
E quando finalmente descobriu o nome do raptor, e pior ainda, que Zeus, Senhor dos Deuses e irmão de Hades, havia tomado parte no crime, Deméter ficou fora de si, tomada por raiva e desespero. Ela então se disfarçou como uma anciã e passou a vagar, desolada, pelo mundo dos homens, buscando sua filha.
Finalmente ela chegou a cidade de Eleusis, governada pelo sábio rei Celeus. E como ninguém havia descoberto sua real identidade, a Deusa tornou-se governanta no palácio do rei, responsável por seu filho mais jovem.
Na realidade o plano secreto de Demeter era conceder ao jovem a dádiva da imortalidade. Para isso, ao invés de comida, ela estava alimentando-o e untando-o com ambrosia e cozendo-o sobre o fogo da lareira durante a noite, de modo a exaurir sua mortalidade. E a cada dia a criança se tornada mais semelhante a um Deus.
Ansiosa por descobrir a razão da mudança do filho, Metaneira, sua mãe, passou a espiar a governanta, mal sabendo que ela realmente era uma Deusa. Quando Metaneira viu a mulher colocando seu filho sobre o fogo, ela gritou, Deméter virou-se, dizendo a Metaneira que se ela não houvesse interferido, seu filho teria se tornado imortal.
Ela então revelou sua real identidade, ordenando que um templo em sua honra fosse erguido em Eleusis, onde as pessoas pudessem celebrar seus mistérios.
E em gratidão a hospitalidade da família de Celeus, Deméter também dividiu com seu filho Triptolemus, seus segredos. Foi a Triptolemus que a Deusa deu o primeiro grão de milho, e ensinou-o como plantá-lo de modo a conseguir grandes colheitas e alimentar a humanidade. Ensinou-o como atrelar o boi ao arado para ajudar o agricultor em seu trabalho diário. E foi a Triptolemus que deu uma carruagem alada puxada por dragões de modo que ele pudesse viajar pelo mundo espalhando por entre a humanidade o conhecimento que havia lhe passado.
Mas esta é outra história. Pois Deméter continuou em sua missão sagrada. Sentada em seu templo em Eleusis, a Deusa fez um voto de vingança contra aqueles que haviam raptado sua filha, e foi uma vingança terrível, pois ela amaldiçoou toda a terra, dizendo que nenhuma fruta nasceria enquanto Kore não retornasse a seus braços.
E assim aconteceu, como nunca havia acontecido desde o início dos tempos, quando os homens e os animais começaram a andar pela Terra, os pés de milho não cresceram, as frutas não nasceram, e o frio e a escuridão, a fome e a morte, se espalharam pelo mundo como um manto sombrio. E todas as criaturas, todos os mortais foram tomados por uma fome terrível.
Em desespero, Zeus enviou Íris para conversar com Demeter. Após descer a Terra através de sua ponte de arco-íris. E Íris implorou a Deusa que esquecesse o assunto, mas isso de nada adiantou. E um a um, todos os Deuses desceram para tentar convencer Deméter, mas ela estava decidida, e continuou recusando-se a ouvir, e a Terra continuou estéril. No fim, a única solução foi Zeus conversar pessoalmente com seu irmão Hades e mandar que ele devolvesse Kore a mãe.
Hades prontamente concordou. Prontamente demais, inclusive. Na realidade, desde o início ele sabia que aquilo iria acontecer e já havia se preparado para o fato, armando uma pequena armadilha para Kore de modo a garantir que ela fosse impossibilitada de abandoná-lo.
Enquanto ela estava em seu reino, ele ofereceu-lhe uma romã, conhecida como "maçã de muitas sementes". E apesar da jovem ter engolido somente quatro sementes, foi o bastante para selar seu destino. A romã mágica, fruta da união sexual, mesmo quando se engole só parte dela, prende a pessoa.
Com isso Kore ficou presa a Hades pelos ritos sagrados do casamento. Ela passou a ser a esposa de Hades, recebendo inclusive um nome novo, pois passou a se chamar Perséfone, a Rainha do Submundo.
E foi devido a isso que, quando Zeus disse a Hades que liberasse sua esposa, ele não relutou em fazê-lo, pois sabia que ela logo retornaria.
Como sua rainha, ela deveria retornar, para passar pelo menos quatro meses de cada ano em seu reino no Submundo, um para cada semente que comera.
E é devido a este fato que, por quatro meses no ano, devido ao pesar de Deméter por sua filha, as folhas caem das árvores, a terra perde a fertilidade e todo o mundo dorme, esperando o retorno de Kore.
De: History of Myths Retold
Autora: Diane Ferguson
Tradução: Valdir Callegari