História dos Ciganos no Mundo
"Na realidade, uma parte um tanto fantástica como estranha, pois por serem um povo ágrafo (sem escrita), por mais que sejam feitas pesquisas sobre o assunto, pouco se pode afirmar com exatidão. Mesmo porque, embora se disponha de um grande número de dados, não há como fazer uma reconstituição histórica definitiva que possa garantir sua autenticidade, menos ainda um censo mais rigoroso, já que estão espalhados no mundo todo, a maioria misturados entre outras famílias, sem exercer sua ciganidade.
A média de ciganos que ainda são nômades é cerca de 10%, sendo que os 90% restantes já se sedentarizaram.
Inclusive já foi assunto de emissoras de TV - como documentários, onde procuraram o máximo de informações possíveis, mas nenhum será exato, já que há mais controvérsias sobre origem, passagem, hábitos, e muitas lendas do que realidade.
O resultado final dessa pesquisa foi que ‘se houvesse um país com seus habitantes todos ciganos, esse seria o maior e mais forte do planeta, pela quantidade de ciganos que existem espalhados no mundo, e por ter passado tudo que já viveram, ainda conservam boa parte de sua cultura original, despertando grande curiosidade entre todos’, inclusive lembrando que muitos renegaram sua origem por diversos motivos.
Os maiores estudiosos afirmam que os ciganos teriam nascido na Índia, devido à semelhança entre o romani (ou romanês) - idioma materno dos ciganos - e o sânscrito, língua clássica indiana. Alguns dizem que os primeiros ciganos pertenciam a uma casta aristocrática dentro da hierarquia indiana.
Sendo um povo que tem um gosto exacerbado pelo nomadismo, e também por outros motivos que somente podemos imaginar hoje em dia, muitos ciganos partiram para viajar pelo Oriente, trabalhando quase sempre com atividades itinerantes, como praticantes de artes divinatórias, comerciantes, artistas de circo, domadores e vendedores de cavalos, ferreiros, artesãos, etc.
Viajando assim, alguns clãs chegaram até o Egito e a algumas partes da Europa. Mesmo sendo difícil definir a diáspora cigana, acredita-se que a Europa tenha sido a sua porta para o mundo.Ao se espalharem por lugares distantes, os ciganos foram se dividindo em grupos que mantém suas tradições até os dias atuais:
- o grupo CALON (que faço parte), é originário do Egito, tendo passado pela Índia e Marrocos, e fixando-se principalmente na Espanha e em Portugal. Aí foram perseguidos e deportados para o Brasil, onde estão hoje em grande número, e seguem fielmente as tradições ciganas.
- o grupo ROM, é originário da Hungria, Romênia, Turquia, Iugoslávia, Rússia e Grécia. São os mais rigorosos em matéria de preservar tradições e possuem grandes conhecimentos de magia. Este grupo é o maior do mundo, por isso dividiu-se em outros pequenos grupos:
-- os KALDERASH, que vieram da Romênia e Iugoslávia e são grandes guardiões da cultura cigana;
-- os MATCHUAIA, que vieram da Iugoslávia, e que hoje praticam um nomadismo diferente, pois quando mudam de cidade, sempre se hospedam em hotéis;
-- e os LOUVARA que vieram da Hungria, são grandes feiticeiros, cartomantes e domadores de cavalos.
OS CIGANOS NO BRASIL
Desde 1526, Portugal já fazia leis preconceituosas contra os ciganos e, em virtude de serem necessários ferreiros e forjadores de armamentos nas colônias distantes, enviavam-nos para lá, a fim de servirem ao reino de Portugal. Algumas dessas leis podem ser encontradas em antigos documentos e livros que fazem parte do acervo do Real Gabinete Português de Leitura, situado no Rio de Janeiro. Em 1526, uma lei determinava que não entrassem ciganos no Reino de Portugal e que saíssem os que lá estivessem. Nas petições da Corte referentes às Terras Novas de Évora, sob a alegação de que deles não resultava nenhum proveito e que, sendo feiticeiros e embusteiros, só causavam prejuízo.
Em 1592 era determinado sobre os ciganos que, aqueles que não saíssem dentro de quatro meses de Portugal, seriam passíveis de pena de morte. Em 1606 há registro de processos pelos quais ciganos foram enviados para Angola, para evitar que continuassem no Reino. Em 1686 os ciganos foram expulsos da Espanha, de Portugal e das colônias portuguesas na África.
Com uma lei de 1708, a Corte proibia trajes ciganos e 'buena dicha' (leitura da sorte nas mãos ou cartas), sob penas de açoites e degredo para Cabo Verde e Brasil. O primeiro cigano de cuja chegada no Brasil se tem notícia, foi João de Torres que, em 1574 veio com sua mulher e filhos.
Os ciganos entraram pelo Maranhão e Pernambuco, espalhando-se aos poucos por todo o Brasil. Os lugares que registram mais ciganos na atualidade são Rio de Janeiro, (havia inclusive no centro da cidade, muito tempo atrás, uma rua que se chamava Rua dos Ciganos, hoje Rua da Constituição), Rio Grande do Sul, Bahia e as diversas fronteiras com os países hispano-americanos.
Nas inúmeras levas vindas de Portugal, o numero de ciganos do clã CALON era grande. Eles se destacavam pelos sobrenomes Monteiro, Savedra, Silva e Torres, sendo o Ferreira comum aos ciganos de clãs vindos da Espanha.
Aqui a vida dos ciganos tornou-se um pouco melhor, mas eles não deixaram de enfrentar preconceitos. Os que chegaram, mas ainda no domínio dos portugueses, eram proibidos de falar sua língua - o romani - e esta lei só caiu em desuso em 1900.
Os degredados eram destinados a trabalhar na forja. Fabricavam ferraduras, ferramentas, apetrechos domésticos e outros.
Com a sua facilidade de andar pelo mundo, eram nomeados meirinhos da Corte - pessoas que levavam notícias e comunicados do Reino a todas as terras brasileiras. Trabalharam mais tarde também como bandeirantes.
Inúmeros ciganos serviram ao exército brasileiro nas mais diferentes épocas, em busca de moedas de ouro e sossego. E quando as damas sabiam que esses militares eram ciganos, começavam a importuná-los para que fizessem suas esposas ensinar-lhes poções de amor e outros feitiços. As mesmas que exerciam seu preconceito na hora das missas, frequentavam suas tsaras (tendas) escondidas, à tarde, para tudo lhes pedir.
NOS DIAS ATUAIS
Existem atualmente cerca de 15 milhões de ciganos pelo mundo, vivendo em relativa paz; mas nem sempre foi assim. Na Romênia e na Hungria, os ciganos foram escravizados por duzentos anos. Na Inglaterra, eram submetidos à expulsão ou pena de morte, apenas por serem ciganos.
Na Alemanha, suas crianças eram roubadas para que ‘o mal não proliferasse’. Na Dinamarca e na Áustria, os que os ajudassem eram punidos fisicamente e marcados como traidores. Nos Países Baixos, eram condenados à forca, para servir aos seus filhos como exemplo de moral.
Na Espanha, houve espaço parcial para que fossem mantidas as tradições; no entanto, durante as atividades da Inquisição, foram condenados pelos Tribunais do Santo Oficio. No País de Gales, devido a uma tolerância parcial, tenderam a se sedentarizar, misturando-se com a população local e dando origem aos ciganos mistos, europeus com sangue cigano; mas o nome dado a eles (posh rat, que significa algo como "malandro ordinário") mostra que o preconceito continuou existindo.
E assim é até hoje. Muitos ciganos, pela necessidade de sobrevivência, omitem sua origem para fugir do preconceito, só exercendo sua "ciganidade" em casa e nas festas dos clãs, dos quais jamais se separam. Ainda hoje há, no mundo inteiro, uma prova evidente do preconceito contra os ciganos. Existem associações específicas, organizações não-governamentais (ONGs), que defendem diversas minorias: homossexuais, negros, judeus, mulheres, crianças, mas nenhuma defende os ciganos.
Essas associações têm toda razão para existir; o problema é que os ciganos só podem contar com seu clã, pois mesmo para os governos de países onde existem grandes contingentes de ciganos, e para as organizações internacionais que patrocinam entidades de defesa de minorias sociais e étnicas, o povo cigano geralmente é invisível. Isso mostra que o que existe é um preconceito de dentro para fora, ou seja, não são os ciganos que resistem à integração com a sociedade global. O que ocorre é que, para muitas sociedades do mundo, nós não existimos.
PRECONCEITOS CONTRA OS CIGANOS
Foi em parte o gosto por viagens e liberdade que determinou que o povo cigano adotasse o nomadismo como estilo de vida. Desde os primórdios dos tempos, o desejo de encontrar fortunas escondidas, terras novas e um paraíso está implícito na alma humana. Estas características estão profundamente marcadas na alma de um cigano, embora provavelmente este não tenha sido o único fator que levou esse povo a correr grandes perigos pelo mundo.
Estando restritos à casta e enfrentando os mais diversos tipos de preconceitos, era esperado que se mudasse o modo de viver; mas isto não aconteceu e não acontece ainda hoje, em sua maioria. Essa preservação das tradições, independente do registro escrito, despertou em outras culturas, intolerância e preconceito. Por esse motivo pode-se entender a incompreensão das maiorias que levantam a bandeira do preconceito contra os ciganos. Esse preconceito é fato em todas as populações do mundo, nas quais acredita-se que são ‘ladrões de crianças’, ‘vendedores de ouro falso’ e feiticeiros.
Estas são naturalmente idéias mentirosas, já que o cigano leva uma vida de trabalho intenso, não tendo tempo para atividades perniciosas ou que não sejam de interesse do clã. Alguns gadjós e gadis (homens e mulheres não-ciganos) têm arraigadas na mente muitas 'verdades' sobre o povo cigano e só os apreciam em festas e bailes, para encantar magias ou negociar. Por isso, nesta ‘Nova Era’, o povo cigano decidiu se abrir um pouco, para fugir desse círculo vicioso de incompreensão, perseguição e preconceito. E tem se obtido êxito: muitos gadjós se aproximam como irmãos no mundo, aproximam-se da beleza do universo cigano para trocar boas energias, Graças a Deus!!!
Meu avô José Carrion, veio ao Brasil com meus bisavós e parentes da região de Sevilha, na Espanha. Dizia ele que quando veio para São Paulo, viveu sua infância toda em meio às tsaras ciganas, exercendo como todos, seus costumes e aprendendo a falar o português do Brasil com perfeição, como todos os ciganos fazem aonde se fixam, que é professar a crença e língua regionais, aprender seus costumes com o intuito de se relacionarem melhor com os habitantes locais.
Perguntei a ele porque se sedentarizaram tão radicalmente? E ele me explicou do pacto que todos os ciganos no Brasil fizerem uns com os outros, e que confirmei posteriormente com outros amigos e amigos de vários lugares, sobre a história de sua família que também passaram pelo mesmo 'pacto', que foi na época do holocausto, onde sacrificavam todos os ciganos, indiferentes de serem crianças, mulheres, idosos, para fazerem suas ‘experiências científicas’, tudo sem usar nenhum sedativo, anestésico ou qualquer outra forma de aliviar seus sofrimentos que os levaram a morte em massa, pois os considerarem insignificantes, escória, sem pátria que os defendessem.
Inclusive assistindo aos filmes dessa época sempre salientam muito a dizimação dos judeus, mas não citam o massacre contra os ciganos, um absurdo, já que existem registros sobre isso!
E muitos se espantam quando conto essa história – embora muito resumida – que inclusive aqui no Brasil houve ameaças de toda espécie, e para que eles preservassem seus descendentes, se sedentarizaram radicalmente, e fizeram o tal ‘pacto de silêncio’, isto é: não passarem mais a cultura de pai para filho como sempre é do costume cigano, não ensinarem mais o dialeto romani aos descendentes, nem professarem suas crenças e costumes abertamente ou junto aos familiares.
O resgate gradativo da cultura cigana por mim e por tantas famílias que passaram pela mesma situação, tem tido poucos resultados em pequenos grupos de estudo e divulgação da nossa cultura, e dentre todos foram eleitos os Presidentes Ciganos no Brasil, que conheci pessoalmente no ‘Primeiro Encontro Nacional Cigano” - na capital de São Paulo - com todos os clãs ciganos e seus representantes.
Em nosso país, cada clã tem seu presidente também, que corre por todos os estados para estabilizar situações dos que ainda são nômades, regularizar divergências dos que vivem nas tsaras e tem todo tipo de dificuldades – como o de não conseguir trabalho, faltando-lhes às vezes o básico necessário para sobrevivência, perseguições infundadas, etc.
Tenho contato constante com o Presidente Nacional do clã que pertenço - Calon - que possui história semelhante a minha, e que vai constantemente no Distrito Federal para tentar conseguir direitos e reconhecimentos aos ciganos no Brasil.
Atualmente estamos lutando para que em São Paulo exista a maior capela no Brasil em homenagem a Santa Sara, já que não temos nada semelhante, somente pequenas grutas com sua imagem.
O que foi conseguido até hoje junto ao atual Presidente da República foi o “Dia do Cigano" no Brasil, que em todo o mundo é comemorado em 12 de outubro, mas porque aqui já existe feriado nacional em comemoração a Padroeira do Brasil Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças , resolveram conceder ao dia 24 de maio, onde comemoramos o dia de Santa Sara. Que agora aqui no Brasil também comemoramos o " DIA DO CIGANO"!
Essa pequena conquista é apenas o início de muitas outras que já arregaçamos as mangas e vamos incessantemente às lutas!
Todos os ciganos possuem a fé e a esperança de que, daqui a algum tempo, todos os povos do mundo se tratarão com respeito, pois para isto Deus criou a todos."
Grande parte da Histórica do Povo Cigano foi baseada no livro “Segredos da Magia Cigana “, da minha querida amiga e irmã de clã, a bela cigana Calín Ramona Torres.
"Na realidade, uma parte um tanto fantástica como estranha, pois por serem um povo ágrafo (sem escrita), por mais que sejam feitas pesquisas sobre o assunto, pouco se pode afirmar com exatidão. Mesmo porque, embora se disponha de um grande número de dados, não há como fazer uma reconstituição histórica definitiva que possa garantir sua autenticidade, menos ainda um censo mais rigoroso, já que estão espalhados no mundo todo, a maioria misturados entre outras famílias, sem exercer sua ciganidade.
A média de ciganos que ainda são nômades é cerca de 10%, sendo que os 90% restantes já se sedentarizaram.
Inclusive já foi assunto de emissoras de TV - como documentários, onde procuraram o máximo de informações possíveis, mas nenhum será exato, já que há mais controvérsias sobre origem, passagem, hábitos, e muitas lendas do que realidade.
O resultado final dessa pesquisa foi que ‘se houvesse um país com seus habitantes todos ciganos, esse seria o maior e mais forte do planeta, pela quantidade de ciganos que existem espalhados no mundo, e por ter passado tudo que já viveram, ainda conservam boa parte de sua cultura original, despertando grande curiosidade entre todos’, inclusive lembrando que muitos renegaram sua origem por diversos motivos.
Os maiores estudiosos afirmam que os ciganos teriam nascido na Índia, devido à semelhança entre o romani (ou romanês) - idioma materno dos ciganos - e o sânscrito, língua clássica indiana. Alguns dizem que os primeiros ciganos pertenciam a uma casta aristocrática dentro da hierarquia indiana.
Sendo um povo que tem um gosto exacerbado pelo nomadismo, e também por outros motivos que somente podemos imaginar hoje em dia, muitos ciganos partiram para viajar pelo Oriente, trabalhando quase sempre com atividades itinerantes, como praticantes de artes divinatórias, comerciantes, artistas de circo, domadores e vendedores de cavalos, ferreiros, artesãos, etc.
Viajando assim, alguns clãs chegaram até o Egito e a algumas partes da Europa. Mesmo sendo difícil definir a diáspora cigana, acredita-se que a Europa tenha sido a sua porta para o mundo.Ao se espalharem por lugares distantes, os ciganos foram se dividindo em grupos que mantém suas tradições até os dias atuais:
- o grupo CALON (que faço parte), é originário do Egito, tendo passado pela Índia e Marrocos, e fixando-se principalmente na Espanha e em Portugal. Aí foram perseguidos e deportados para o Brasil, onde estão hoje em grande número, e seguem fielmente as tradições ciganas.
- o grupo ROM, é originário da Hungria, Romênia, Turquia, Iugoslávia, Rússia e Grécia. São os mais rigorosos em matéria de preservar tradições e possuem grandes conhecimentos de magia. Este grupo é o maior do mundo, por isso dividiu-se em outros pequenos grupos:
-- os KALDERASH, que vieram da Romênia e Iugoslávia e são grandes guardiões da cultura cigana;
-- os MATCHUAIA, que vieram da Iugoslávia, e que hoje praticam um nomadismo diferente, pois quando mudam de cidade, sempre se hospedam em hotéis;
-- e os LOUVARA que vieram da Hungria, são grandes feiticeiros, cartomantes e domadores de cavalos.
OS CIGANOS NO BRASIL
Desde 1526, Portugal já fazia leis preconceituosas contra os ciganos e, em virtude de serem necessários ferreiros e forjadores de armamentos nas colônias distantes, enviavam-nos para lá, a fim de servirem ao reino de Portugal. Algumas dessas leis podem ser encontradas em antigos documentos e livros que fazem parte do acervo do Real Gabinete Português de Leitura, situado no Rio de Janeiro. Em 1526, uma lei determinava que não entrassem ciganos no Reino de Portugal e que saíssem os que lá estivessem. Nas petições da Corte referentes às Terras Novas de Évora, sob a alegação de que deles não resultava nenhum proveito e que, sendo feiticeiros e embusteiros, só causavam prejuízo.
Em 1592 era determinado sobre os ciganos que, aqueles que não saíssem dentro de quatro meses de Portugal, seriam passíveis de pena de morte. Em 1606 há registro de processos pelos quais ciganos foram enviados para Angola, para evitar que continuassem no Reino. Em 1686 os ciganos foram expulsos da Espanha, de Portugal e das colônias portuguesas na África.
Com uma lei de 1708, a Corte proibia trajes ciganos e 'buena dicha' (leitura da sorte nas mãos ou cartas), sob penas de açoites e degredo para Cabo Verde e Brasil. O primeiro cigano de cuja chegada no Brasil se tem notícia, foi João de Torres que, em 1574 veio com sua mulher e filhos.
Os ciganos entraram pelo Maranhão e Pernambuco, espalhando-se aos poucos por todo o Brasil. Os lugares que registram mais ciganos na atualidade são Rio de Janeiro, (havia inclusive no centro da cidade, muito tempo atrás, uma rua que se chamava Rua dos Ciganos, hoje Rua da Constituição), Rio Grande do Sul, Bahia e as diversas fronteiras com os países hispano-americanos.
Nas inúmeras levas vindas de Portugal, o numero de ciganos do clã CALON era grande. Eles se destacavam pelos sobrenomes Monteiro, Savedra, Silva e Torres, sendo o Ferreira comum aos ciganos de clãs vindos da Espanha.
Aqui a vida dos ciganos tornou-se um pouco melhor, mas eles não deixaram de enfrentar preconceitos. Os que chegaram, mas ainda no domínio dos portugueses, eram proibidos de falar sua língua - o romani - e esta lei só caiu em desuso em 1900.
Os degredados eram destinados a trabalhar na forja. Fabricavam ferraduras, ferramentas, apetrechos domésticos e outros.
Com a sua facilidade de andar pelo mundo, eram nomeados meirinhos da Corte - pessoas que levavam notícias e comunicados do Reino a todas as terras brasileiras. Trabalharam mais tarde também como bandeirantes.
Inúmeros ciganos serviram ao exército brasileiro nas mais diferentes épocas, em busca de moedas de ouro e sossego. E quando as damas sabiam que esses militares eram ciganos, começavam a importuná-los para que fizessem suas esposas ensinar-lhes poções de amor e outros feitiços. As mesmas que exerciam seu preconceito na hora das missas, frequentavam suas tsaras (tendas) escondidas, à tarde, para tudo lhes pedir.
NOS DIAS ATUAIS
Existem atualmente cerca de 15 milhões de ciganos pelo mundo, vivendo em relativa paz; mas nem sempre foi assim. Na Romênia e na Hungria, os ciganos foram escravizados por duzentos anos. Na Inglaterra, eram submetidos à expulsão ou pena de morte, apenas por serem ciganos.
Na Alemanha, suas crianças eram roubadas para que ‘o mal não proliferasse’. Na Dinamarca e na Áustria, os que os ajudassem eram punidos fisicamente e marcados como traidores. Nos Países Baixos, eram condenados à forca, para servir aos seus filhos como exemplo de moral.
Na Espanha, houve espaço parcial para que fossem mantidas as tradições; no entanto, durante as atividades da Inquisição, foram condenados pelos Tribunais do Santo Oficio. No País de Gales, devido a uma tolerância parcial, tenderam a se sedentarizar, misturando-se com a população local e dando origem aos ciganos mistos, europeus com sangue cigano; mas o nome dado a eles (posh rat, que significa algo como "malandro ordinário") mostra que o preconceito continuou existindo.
E assim é até hoje. Muitos ciganos, pela necessidade de sobrevivência, omitem sua origem para fugir do preconceito, só exercendo sua "ciganidade" em casa e nas festas dos clãs, dos quais jamais se separam. Ainda hoje há, no mundo inteiro, uma prova evidente do preconceito contra os ciganos. Existem associações específicas, organizações não-governamentais (ONGs), que defendem diversas minorias: homossexuais, negros, judeus, mulheres, crianças, mas nenhuma defende os ciganos.
Essas associações têm toda razão para existir; o problema é que os ciganos só podem contar com seu clã, pois mesmo para os governos de países onde existem grandes contingentes de ciganos, e para as organizações internacionais que patrocinam entidades de defesa de minorias sociais e étnicas, o povo cigano geralmente é invisível. Isso mostra que o que existe é um preconceito de dentro para fora, ou seja, não são os ciganos que resistem à integração com a sociedade global. O que ocorre é que, para muitas sociedades do mundo, nós não existimos.
PRECONCEITOS CONTRA OS CIGANOS
Foi em parte o gosto por viagens e liberdade que determinou que o povo cigano adotasse o nomadismo como estilo de vida. Desde os primórdios dos tempos, o desejo de encontrar fortunas escondidas, terras novas e um paraíso está implícito na alma humana. Estas características estão profundamente marcadas na alma de um cigano, embora provavelmente este não tenha sido o único fator que levou esse povo a correr grandes perigos pelo mundo.
Estando restritos à casta e enfrentando os mais diversos tipos de preconceitos, era esperado que se mudasse o modo de viver; mas isto não aconteceu e não acontece ainda hoje, em sua maioria. Essa preservação das tradições, independente do registro escrito, despertou em outras culturas, intolerância e preconceito. Por esse motivo pode-se entender a incompreensão das maiorias que levantam a bandeira do preconceito contra os ciganos. Esse preconceito é fato em todas as populações do mundo, nas quais acredita-se que são ‘ladrões de crianças’, ‘vendedores de ouro falso’ e feiticeiros.
Estas são naturalmente idéias mentirosas, já que o cigano leva uma vida de trabalho intenso, não tendo tempo para atividades perniciosas ou que não sejam de interesse do clã. Alguns gadjós e gadis (homens e mulheres não-ciganos) têm arraigadas na mente muitas 'verdades' sobre o povo cigano e só os apreciam em festas e bailes, para encantar magias ou negociar. Por isso, nesta ‘Nova Era’, o povo cigano decidiu se abrir um pouco, para fugir desse círculo vicioso de incompreensão, perseguição e preconceito. E tem se obtido êxito: muitos gadjós se aproximam como irmãos no mundo, aproximam-se da beleza do universo cigano para trocar boas energias, Graças a Deus!!!
Meu avô José Carrion, veio ao Brasil com meus bisavós e parentes da região de Sevilha, na Espanha. Dizia ele que quando veio para São Paulo, viveu sua infância toda em meio às tsaras ciganas, exercendo como todos, seus costumes e aprendendo a falar o português do Brasil com perfeição, como todos os ciganos fazem aonde se fixam, que é professar a crença e língua regionais, aprender seus costumes com o intuito de se relacionarem melhor com os habitantes locais.
Perguntei a ele porque se sedentarizaram tão radicalmente? E ele me explicou do pacto que todos os ciganos no Brasil fizerem uns com os outros, e que confirmei posteriormente com outros amigos e amigos de vários lugares, sobre a história de sua família que também passaram pelo mesmo 'pacto', que foi na época do holocausto, onde sacrificavam todos os ciganos, indiferentes de serem crianças, mulheres, idosos, para fazerem suas ‘experiências científicas’, tudo sem usar nenhum sedativo, anestésico ou qualquer outra forma de aliviar seus sofrimentos que os levaram a morte em massa, pois os considerarem insignificantes, escória, sem pátria que os defendessem.
Inclusive assistindo aos filmes dessa época sempre salientam muito a dizimação dos judeus, mas não citam o massacre contra os ciganos, um absurdo, já que existem registros sobre isso!
E muitos se espantam quando conto essa história – embora muito resumida – que inclusive aqui no Brasil houve ameaças de toda espécie, e para que eles preservassem seus descendentes, se sedentarizaram radicalmente, e fizeram o tal ‘pacto de silêncio’, isto é: não passarem mais a cultura de pai para filho como sempre é do costume cigano, não ensinarem mais o dialeto romani aos descendentes, nem professarem suas crenças e costumes abertamente ou junto aos familiares.
O resgate gradativo da cultura cigana por mim e por tantas famílias que passaram pela mesma situação, tem tido poucos resultados em pequenos grupos de estudo e divulgação da nossa cultura, e dentre todos foram eleitos os Presidentes Ciganos no Brasil, que conheci pessoalmente no ‘Primeiro Encontro Nacional Cigano” - na capital de São Paulo - com todos os clãs ciganos e seus representantes.
Em nosso país, cada clã tem seu presidente também, que corre por todos os estados para estabilizar situações dos que ainda são nômades, regularizar divergências dos que vivem nas tsaras e tem todo tipo de dificuldades – como o de não conseguir trabalho, faltando-lhes às vezes o básico necessário para sobrevivência, perseguições infundadas, etc.
Tenho contato constante com o Presidente Nacional do clã que pertenço - Calon - que possui história semelhante a minha, e que vai constantemente no Distrito Federal para tentar conseguir direitos e reconhecimentos aos ciganos no Brasil.
Atualmente estamos lutando para que em São Paulo exista a maior capela no Brasil em homenagem a Santa Sara, já que não temos nada semelhante, somente pequenas grutas com sua imagem.
O que foi conseguido até hoje junto ao atual Presidente da República foi o “Dia do Cigano" no Brasil, que em todo o mundo é comemorado em 12 de outubro, mas porque aqui já existe feriado nacional em comemoração a Padroeira do Brasil Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças , resolveram conceder ao dia 24 de maio, onde comemoramos o dia de Santa Sara. Que agora aqui no Brasil também comemoramos o " DIA DO CIGANO"!
Essa pequena conquista é apenas o início de muitas outras que já arregaçamos as mangas e vamos incessantemente às lutas!
Todos os ciganos possuem a fé e a esperança de que, daqui a algum tempo, todos os povos do mundo se tratarão com respeito, pois para isto Deus criou a todos."
Grande parte da Histórica do Povo Cigano foi baseada no livro “Segredos da Magia Cigana “, da minha querida amiga e irmã de clã, a bela cigana Calín Ramona Torres.